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Foto do escritorPamela Araujo

Notas sobre processo


Encaixes cariocas

Acrílico sobre tela 1,90x1,45m, 2022


No verão efervescente do Rio de janeiro, tudo impregnou em mim: carnaval, resistência, música, floresta, oceano, calor, Santa Teresa, praia, céu, bromélias, bronze, arroz, feijão, sol, calor, cor, muita cor, curvas, suor, morros, barulho, informalidade, espontaneidade, brasilidade.


Encantei-me por tudo, como se estivesse vendo aquilo tudo pela primeira vez. Tudo era mais bonito que qualquer memória, que qualquer lembrança.


Era eu, sentindo ares de casa novamente.

Assim nasceu a série 'Encaixes e Desencaixes', na complexidade de transitar entre ser nativa e estar estrangeira. De estar imigrante e ser nativa. Entra numa caixa, sai e entra em outra. Se ajeita, se acomoda e se desacomoda.


Há 10 meses vivo em estado de viagem. Não é uma viagem de férias, já é o modo de vida. Vivemos numa Kombi desde maio e o maior medo que eu tinha era de não conseguir pintar.


Não é todo dia que dá para adaptar o atelier, não é todo dia que pinto e não é qualquer tamanho ou qualquer formato que  são viáveis. O espaço é limitado e tudo depende do humor da meteorologia. A logística é complexa, mas a cada dia desenvolvo novos truques.


Então, por esse receio de não conseguir pintar, eu comecei a pintar sempre, para não correr o risco de não pintar.


A vida então continua por estradas, cidades, vilarejos, paisagens, rostos, corações. E tudo isso que vivo, que já é tanto, por vezes parece pouco perto daquilo que se pode viver.

É preciso tempo para digerir, distância para compreender a magnitude de toda essa vida presente.


Trouxe uma mala inteira da França com meus melhores pincéis, papéis e quilos de tubos de tinta, ter meu atelier era prioridade durante essa nova fase.


E no início dessa aventura recebo a comanda de um amigo querido : fazer uma pintura da série 'Encaixes' em escala 5x maior do que eu estou habituada. Tremi na base! Haha A pequena escala é a minha zona de segurança e uma dimensão tipo A2 já é grande. A logística era o mais complexo, onde eu poderia fazer uma pintura tão grande?


Até encontrar um possível local,

muitos estudos foram feitos, outros mil poderiam ter existido. E o processo da pintura não é linear e apesar de ter um estudo de base, ela tomou seu rumo ao longo do processo.


Atualmente estou em Itacaré, na Bahia e essa pintura nasceu aqui. Mas ela também nasceu no rio de Janeiro, naquela volta lá no início, efervescente, quente e viva. Em breve, ela vai habitar terras moçambicanas. Como eu poderia descrever tamanha felicidade? 🖤


Agradeço imensamente ao meu amigo @neyrcd pela confiança no meu trabalho e pela ocasião de eu poder me desfiar. Ao meu companheiro Rémy, que me apoia na logística e em todos os processos para fazer as ideias virarem realidade. E ao Paulinho, do espaço @casafluir que me cedeu por alguns dias um pouco desse espaço querido em Itacaré. 🤍

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