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Como atravessar o inverno

Como atravessar o inverno é uma série de pinturas desenvolvida durante os meses de inverno (2024 e 2025), em Montpellier, França. 

A série comporta uma dezena de pinturas de pequeno formato em acrílica sobre telas e guache sobre papel. A série é um pequeno refúgio existencial durante os meses de inverno onde eu  vivia a dor do luto da separação, do exílio geográfico, mesmo que este tenha sido por opção e não forçado. 

 

Numa busca por acalento e abrando desta dor, a escrita e a pintura vieram como bóia salva vidas, em janeiro de 2025, apesar do profundo bloqueio criativo que vinha vivenciando em relação à tudo que criei e desenvolvi durante os últimos 3 anos, período em que estive no Brasil.

Qual é o composição que faz sentido?  

 

Depois de um tempo na França, as cores  parecem perder seus contrastes, sua força e também sua interessância.  Sou atraída pelos contrastes, pelas cores que vibram. Elas dançam, fazem barulho, ocupam espaços, têm cheiros e contradições.  

Tudo anda bege, as cores se misturam com  branco e cinza e encarna uma palidez, que  ao mesmo tempo que é triste, também é  bonita e transcendental.  

 

Ando com dificuldade de encontrar as  cores, de desenhar as composições, de  fazer com que o que se passa no interior seja coerente com o que se passa no fora. 

Fico esperando uma idéia genial, um tipo  de Iluminação divina. Este momento é desolador, pois ele não chega quando se necessita, e na maioria das vezes chega por  intermédio de exercícios e movimento. Tem que botar o cérebro para passear em outros caminhos para se tornar menos  viciado. 

 

Por vezes é só olhar o que se passa ao redor de si. Se passa um inverno. O tempo em que  metade do mundo dorme, quando a luz não chega para o rendez-vous, quando não se ouve mais os cantos dos pássaros, as árvores, nuas, morrem de frio. O céu, tomado de tantas nuvens, não é nem azul, nem cinza, é branco. 

 

Os invernos, ao atravessá-los, me recordo do medo que sinto ao adentrá-lo. Como muita coisa na vida, a gente esquece para poder continuar vivendo.  

E quem não vive inverno para que não tem o que lembrar? Que sorte! Há coisas que são tropicais demais para viverem sem luz. Inverno não se vive, se sobrevive, resta saber como atravessá-lo e sair viva do outro lado. 

 

Inverno é o momento do recolhimento. Tem que se entrar dentro de si mesmo, criar camadas gordas de proteção e calor. De quentura de memória para manter a brasa acesa o suficiente para não se deixar congelar no bege fingido de calor que não esquenta. 

A travessia é longa e parece eterna. E quando menos se tem esperança, mais próxima estamos do seu fim.

Que assim seja! 

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