PAMELA ARAÚJO
Como atravessar o inverno
Como atravessar o inverno é uma série de pinturas desenvolvida durante os meses de inverno (2024 e 2025), em Montpellier, França.
A série comporta uma dezena de pinturas de pequeno formato em acrílica sobre telas e guache sobre papel. A série é um pequeno refúgio existencial durante os meses de inverno onde eu vivia a dor do luto da separação, do exílio geográfico, mesmo que este tenha sido por opção e não forçado.
Numa busca por acalento e abrando desta dor, a escrita e a pintura vieram como bóia salva vidas, em janeiro de 2025, apesar do profundo bloqueio criativo que vinha vivenciando em relação à tudo que criei e desenvolvi durante os últimos 3 anos, período em que estive no Brasil.
Qual é o composição que faz sentido?
Depois de um tempo na França, as cores parecem perder seus contrastes, sua força e também sua interessância. Sou atraída pelos contrastes, pelas cores que vibram. Elas dançam, fazem barulho, ocupam espaços, têm cheiros e contradições.
Tudo anda bege, as cores se misturam com branco e cinza e encarna uma palidez, que ao mesmo tempo que é triste, também é bonita e transcendental.
Ando com dificuldade de encontrar as cores, de desenhar as composições, de fazer com que o que se passa no interior seja coerente com o que se passa no fora.
Fico esperando uma idéia genial, um tipo de Iluminação divina. Este momento é desolador, pois ele não chega quando se necessita, e na maioria das vezes chega por intermédio de exercícios e movimento. Tem que botar o cérebro para passear em outros caminhos para se tornar menos viciado.
Por vezes é só olhar o que se passa ao redor de si. Se passa um inverno. O tempo em que metade do mundo dorme, quando a luz não chega para o rendez-vous, quando não se ouve mais os cantos dos pássaros, as árvores, nuas, morrem de frio. O céu, tomado de tantas nuvens, não é nem azul, nem cinza, é branco.
Os invernos, ao atravessá-los, me recordo do medo que sinto ao adentrá-lo. Como muita coisa na vida, a gente esquece para poder continuar vivendo.
E quem não vive inverno para que não tem o que lembrar? Que sorte! Há coisas que são tropicais demais para viverem sem luz. Inverno não se vive, se sobrevive, resta saber como atravessá-lo e sair viva do outro lado.
Inverno é o momento do recolhimento. Tem que se entrar dentro de si mesmo, criar camadas gordas de proteção e calor. De quentura de memória para manter a brasa acesa o suficiente para não se deixar congelar no bege fingido de calor que não esquenta.
A travessia é longa e parece eterna. E quando menos se tem esperança, mais próxima estamos do seu fim.
Que assim seja!















