NOSTALGIE OU SAUDADE
Este trabalho nasceu após uma urgência em traduzir as dificuldades de emigrar, ainda que quase um ano depois da minha chegada na França. Depois da excitação da chegada e do deslumbramento com o novo, a distância do que era familiar e a solidão emergiram de forma dolorosa e intensa. Esta distância trouxe muitos desafios pessoais, onde, por inúmeras vezes me deparei com os meus próprios fantasmas e de face para um espelho solitário, obscuro e vazio.
A solidão e o desencantamento com as novidades já eram presentes e questões identitárias surgem com força. O mundo torna-se preto e branco e ali nasce uma dualidade entre dois mundos: Quem sou eu neste lugar que não é o meu? Porém, a beleza também revela-se desta escuridão e pequenas estrelas despontam do céu escuro. A solitude se torna o tema central desta série, onde a personagem traça um caminho em busca de se conectar com algo precioso.
Montpellier, é o cenário desta série. Eu vejo nela uma solidão escondida atrás de suas várias janelas ou por detrás ‘soirées’ bêbadas. O silêncio dos domingos e o longo inverno intensificam esse sentimento. Entretanto, Montpellier tem algo de amável e acolhedor, e, de uma forma ou de outra, nos entrelaça entre seu céu azul e suas ruelas, e no outro dia, como de uma forma quase mágica, a esperança retorna, como se nunca tivesse partido.
Esta série compreende cerca de 26 pinturas em aquarela, guache e nanquim sobre papel, toda desenvolvida entre o inverno de 2016 e o outono de 2017.